segunda-feira, agosto 16, 2010

O OUTRO MENINO (CALADO A ME OLHAR, O OUTRO MENINO POUSA NO...

...QUARTO como se a vida fosse uma história recomeçada.
O outro menino me lembra o tempo em que eu ficava a admirar, com a minha cabeça cheia de perguntas, os óculos do meu tio que morava em São Paulo.
Sentia vontade de crescer rápido. Ficar gordo e simpático igual à amante do meu outro tio que nunca foi a São Paulo, mas falava o tempo inteiro em ir tentar a sorte no Rio de Janeiro.
O outro menino traz a noite, os gestos. Quando a lâmpada do quarto se apaga, sono que chega, vejo em forma de nuvens os meus sapatos Vulcabrás, os suspensórios do uniforme escolar e o futuro tatuado na outra solidão, a mais bonita do passado).

CIRCO DE ESPELHO (NOITE É TER UMA JANELA NO...

...QUARTO com vista para os ventos.
Enquanto os trapezistas ensaiam mergulhos no espaço os palhaços fazem sorrir a criança. Transformam objetos em símbolos da eternidade, bonecos de papel machê em astronautas.
Noite é ter um circo a se perder de vista na intensidade do sonho. As mãos sabem porque vieram mágicas desenhar a lua. Acariciam os pássaros ao redor dos planetas.
Quando a noite se finda o sol renasce do outro lado da criação das metamorfoses do tempo).

CORRENTEZAS (AO SENTIR NO...

...QUARTO a presença do silêncio originário do fim da guerra retiro a roupa do corpo e me mostro às palavras.
As lutas fazem o mundo se aproximar das correntezas que levam para muito longe os crescimentos e as compreensões. Imbatíveis ficam os desajustes humanos.
O sangue se machuca. Corte profundo. Gritos ocasionados pelas armas atômicas, ceifadoras das gêneses das palavras a cada instante das vitórias das correntezas).

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