FILÓ (SOPROU AS LETRAS DOS JORNAIS AO BEIJAR OLHARES)

Ela fez aniversário. Disse-me que nasceu em algum dia do quinto mes do ano dos antes. Comemorou a mulher que se tornou nos reflexos das páginas que ela própria escreveu tempos depois.
Na festa, as profunduras das transparências escancararam as danças dos seus olhos. No baile do aniversário ficou em silêncio quando os ventos trouxeram melancolias nas chuvas das vidraças e parapeitos das janelas.
Ganhou nas mãos presentes e códigos, taças de champanha, bombons recheados com creme chantilly, números de telefones dos pretendentes a amantes. O pilequinho não se lavou, lucidez poética da idade, nas águas mornas do chuveiro.
Os ventos das comemorações levantaram das terras úmidas desejos nos copos de uísque dos convidados da família, aqueles que se vestiam com roupas engomadas.
Confundiu palavras escritas com notícias de encontros.
Antes de o amanhecer a denunciar bailou com os olhos das letras a nossa última dança
que o tempo soube amar.