quarta-feira, fevereiro 03, 2010

A FONTE LUMINOSA (SENTIMENTOS NO RÓTULO SOLTO DA GARRAFA DE OLD EIGHT)

A fonte luminosa era morta com a solidão da hora adiantada. Morta igual às portas que rangiam nas fantasias da infância na cidade da cabeça do tempo, o apagador das luzes da praça.
À beira da morte, segundos antes da escuridão, as águas da fonte me acariciaram com respingos da terra-natal que manchavam minhas roupas lavadas com sabão de pedra.
Na caminhada de volta, nas ruas êrmas dos ventos com cheiro de lavanda, via nascer no horizonte o que eu pela primeira vez sentia de belo.
Sentava-me nos portões dos desejos noturnos. Da lista do inventário das luzes herdei uma garrafa de uísque, um maço de cigarros Continental arrancado do túmulo do meu avô materno.
Tentava conversar com o caminho, dava livre curso à paixão, conseguia me aproximar das passagens secretas do fogo e ia embora para o quarto sem lâmpada.

Nenhum comentário: